Paz <i>vs</i> cultura imperial

Zillah Branco

Neste momento crucial da vida da humanidade, em que está ameaçada a natureza e a própria existência dos povos com as suas respectivas culturas geradas ao longo de milênios, vai-se tornando unificado um pensamento que a esquerda mais consequente sempre defendeu: a luta pela paz contra as ameaças do imperialismo.

As palavras carregam significados mais complexos do que o entendimento linguístico. O uso do vocábulo imperialismo pelos revolucionários marxistas pesou na demarcação de dois grandes grupos que defendem a democracia, assim como a referência a filosofias religiosas separou-os dos materialistas. Extremaram-se divergências com base em preconceitos imediatos, sem o necessário esforço de conhecimento aprofundado para a superação dos dogmatismos. Hoje, diante da prepotência imperial representada pelos governantes anglo-americanos – que reflete uma longa história de domínio imposta aos povos de todos os continentes nas diferentes formas de colonialismo que acompanharam a evolução das relações econômicas, sociais e políticas – surge uma aproximação entre forças anteriormente antagónicas, como fruto da busca aprofundada da essência da questão do poder, por um lado, e da responsabilidade pela sobrevivência da humanidade respeitada em todos os seus direitos, por outro.

Os cristãos reflectem sobre a necessidade de actuar politicamente em defesa da colectividade antes de considerar o indivíduo que gostariam de proteger generosamente; os países ricos da Europa (Alemanha, França, Bélgica) e os líderes sociais democratas, que caminharam até agora como aliados dos anglo-americanos, ouvem o protesto da opinião pública dos seus países contra o domínio imperial e pronunciam-se pela paz contrariando a decisão de guerra dos EUA e Inglaterra; os analistas políticos que habitualmente tratavam a humanidade dividida em dois blocos – esquerda e direita, ou muçulmanos e cristãos, ou Leste e Oeste – sentiram a necessidade de introduzir neste xadrez reduzido e superficial o peso das culturas e a necessidade de um factor ético nas considerações sobre os conflitos. Desta transformação da ação política no panorama mundial resulta hoje, com toda a clareza, a condenação do poder imperial, liderado pelo governo Bush e seu apoiante inglês Blair, e o reconhecimento explícito das razões ocultas da proposta da guerra que se situam na necessidade de apropriação dos recursos petrolíferos do Oriente Médio e de destruição da unidade cultural que sustenta os muçulmanos como uma parte da humanidade não subordinada à chamada «civilização ocidental», ou seja, ao poder imperial que a chefia política e militarmente.


Basta!


Em 1999, o democrata John Kenneth Galbraith divulgou o seu pensamento quando actuou junto aos presidentes dos Estados Unidos no livro «Contando Vantagem» (Ed. Record), ao longo de três décadas. Surpreendeu os leitores que o admiram como defensor da democracia e dos direitos humanos, ao revelar o seu apoio a medidas criminosas, como por exemplo a de lançar a bomba atómica sobre a população civil do Japão, com a justificação de que era uma medida para o presidente assegurar o seu poder diante das pressões dos opositores norte-americanos. São várias as situações referidas desde o governo de Roosevelt até Kennedy, em que a defesa individual ou de grupo do poder presidencial esteve acima de qualquer avaliação ética e de respeito pelos direitos humanos.

O pretexto do combate ao terrorismo ou à droga – que têm ligação direta com a lavagem de dinheiro, os paraísos fiscais, os tráficos de arma e a exploração sexual – instrumentaliza esta cultura imperial que toma decisões arbitrárias de fazer guerra contra o Iraque, de defender o fascismo israelense opressor dos palestinos, para formar uma opinião nas populações privadas da liberdade de aprender e de pensar a partir das verdades reais. Não se coíbem de apresentar oficialmente documentos falsos e fotografias forjadas como provas das mentiras que afirmam para justificar a guerra.

Um BASTA! ao poder arbitrário que reduz a humanidade a vassalos, levanta-se em todo o mundo. Pela primeira vez a NATO divide-se gerando um grupo de oposição aos desmandos imperiais. Milhões de pessoas enchem as ruas das capitais europeias, assim como dos países em todo o mundo, exigindo a paz e o fim da vassalagem que mancha a história da humanidade. A guerra será detonadora de todas as formas de terrorismo; a paz será um passo em frente na política-ética que abre o caminho do desenvolvimento democrático dos povos.



Mais artigos de: Internacional

Faixa de Gaza a ferro e fogo

Pelo menos 10 mortos e 40 feridos é o balanço do bárbaro ataque de Israel a um campo de refugiados palestinianos, segunda-feira, na Faixa de Gaza.

EUA acusados de espionagem

Os membros do Conselho de Segurança indecisos quanto a um ataque ao Iraque têm estado a ser espiados, revelou domingo o jornal britânico The Observer.

Mensagens de paz

O Papa João Paulo II poderá pedir para se dirigir pessoalmente ao Conselho de Segurança caso a mensagem de paz que enviou a George Bush não seja suficiente para garantir uma solução pacífica para o Iraque. Segundo uma fonte do Vaticano, a hipótese de João...